Medicina Escolar

Em 23 de abril de 1919 surgiu a primeira Escola Waldorf, no depósito de tabaco da fábrica de cigarros Waldorf-Astoria, em Stuttgart na Alemanha. O chefe da empresa, o conselheiro comercial Sr. Emil Molt, convidou Rudolf Steiner para assumir a tarefa da direção pedagógica de uma instituição de ensino para as crianças que tencionava realizar, tomara conhecimento de suas ideias através de suas palestras, apresentando-o aos seus funcionários como sendo um filósofo social. Steiner acreditava que era uma exigência daquele tempo uma escola única de doze séries, que fosse acessível a todas as classes sociais e para meninos e meninas de ambos os sexos, incluindo o ensino fundamental e o ensino médio, uma educação para a liberdade.

Com essa proposta feita aos operários da fábrica, conquistou a confiança de todos, logo no dia seguinte alguns deles lhe perguntaram se seus filhos não poderiam também frequentar essa escola que ele havia descrito, esse desejo expresso dos funcionários permitiu a criação de uma base sólida para a formação desse projeto. Com a orientação de Rudolf Steiner teve início essa pedagogia do futuro que preconizava basicamente o papel que a educação e a formação poderiam desempenhar na evolução da humanidade, partindo de um conhecimento mais profundo do homem. Era seu intento que toda pessoa pudesse ter a oportunidade de adquirir a mesma cultura geral, independente de sua classe social.

O único objetivo para uma escola desse tipo é a formação do ser humano. O corpo docente já contava desde o começo com a participação de um médico entre os seus membros, o Dr. Eugen Kolisko, que contribuía justamente por observar a criança sob um aspecto diferenciado daquele visto pelo professor. A presença do médico escolar oferece a possibilidade de um trabalho conjunto com o professor e a família objetivando a criança e as suas relações dentro da escola. A escola passa a fazer parte da vida da criança, a socialização doméstica se transforma em uma socialização coletiva, novos personagens começam a fazer parte da vida da criança e novas relações vão surgindo, os primeiros confrontos necessariamente surgem nessa época, quando a criança precisa buscar um espaço em um ambiente menos protegido do que aquele que encontrava em sua casa, as amizades, as frustrações e as conquistas surgem inicialmente entre os colegas, nesse novo espaço que começa a frequentar. E esses sentimentos começam a fazer parte da vida da criança, os quais às vezes se transformam em obstáculos intransponíveis, ocasionando angústias e dificuldades em suas tentativas de superação, o que a criança sozinha nem sempre consegue.

 A professora observa no aluno esse descompasso e os pais notam que o filho já não se encontra tão animado com a escola, o médico escolar pode ajudar nessa situação trabalhando com essas duas informações auxiliando a criança não somente com medicamentos, mas também com indicações terapêuticas e em conjunto com o professor contribuir nas medidas pedagógicas, com a família poderá atuar na orientação de algumas condutas que em consonância com as atividades que a criança vivencia na escola, resultarão para ela em uma soma de benefícios, principalmente se todos objetivarem a sua individualidade infantil e a particularidade com que se está manifestando, auxiliando a criança a superar essas dificuldades no estímulo em sua autoconfiança e no desempenho de suas atividades.

O médico escolar representa uma espécie de “porta-voz” da criança ao dirigir sua atenção às dificuldades que ela vem apresentando e de como ele poderia utilizar as várias possibilidades para auxiliar a essa criança, a Antroposofia dispõe de uma série de recursos (Terapia Artística, Eurritmia, Massagem rítmica, etc.), a própria pedagogia Waldorf que trabalha com o ensino em épocas, com o desenho de formas e as narrações sobre a natureza e as estações do ano, respeitando o ritmo e o que se sente e se percebe da criança, já tem em sua própria aplicação um inquestionável efeito terapêutico. Portanto, cabe ao médico a tarefa dessa sintonia entre as possibilidades de aprendizagem individuais da criança e as exigências pedagógicas que nem sempre são adequadamente correspondidas ainda mais quando as expectativas dos pais também não encontram eco no desempenho escolar de seu filho. Contrabalançar e adequar as várias solicitações priorizando o bem estar da criança é o grande desafio dessa especialidade.

Dr. José Carlos Neves Machado Médico Escolar / Pediatra com formação em Antroposofia

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